Forte de São José (Cabo da Praia)
O Forte de São José localizava-se na freguesia do Cabo da Praia, concelho da Praia da Vitória, na costa oeste da ilha Terceira, nos Açores.
Em posição dominante sobre este trecho do litoral, constituiu-se em uma fortificação destinada à defesa deste ancoradouro (atual Porto Oceânico da Praia da Vitória) contra os ataques de piratas e corsários, outrora frequentes nesta região do oceano Atlântico. Cruzava fogos com o Forte de Santa Catarina e com o Forte de São Caetano.
História
[editar | editar código-fonte]Embora pouco se conheça acerca da sua história, uma vez que não se encontra expressamente mencionado por Gaspar Frutuoso e nem por Francisco Ferreira Drummond. Este último refere que, em 1581, no contexto da crise de sucessão de 1580 o então corregedor dos Açores, Ciprião de Figueiredo e Vasconcelos, mandou edificar mais doze fortes "além do de Santa Catarina", na baía da Praia ("Anais da Ilha Terceira"). Estudos mais recentes, a partir da análise dos materiais empregados na sua construção, indicam entretanto, que a sua construção não deve remontar ao século XVI.
Também não se encontra relacionado entre os fortes inspecionados pelo Sargento-mor Engenheiro João António Júdice em 1767,[1] nem do Ajudante de Ordens Manoel Correa Branco em 1776.[2]
O seu nome consta na relação dos fortes recuperados pelo Capitão-general dos Açores, Francisco António de Araújo e Azevedo, quando este determinou reparar as fortificações desta linha defensiva, entre os anos de 1818 e 1820.[3] Terá sido erguido com projeto e sob a direção do engenheiro militar, José Rodrigo de Almeida, ao tempo coronel de Milícias da Vila da Praia.[4]
No contexto da Guerra Civil Portuguesa, quando da batalha da Praia (11 de agosto de 1829), consta ter sido o que mais danos causou à capitânia absolutista, a nau "D. João VI".
A "Relação" do marechal de campo Barão de Bastos em 1862 localiza-o na vila da Praia da Vitória e informa:
- "As muralhas precizão d'algumas reparações; o alojam.to está inabitavel, p. que d'elle só existem as paredes, as quais estão em bom estado; acha-se já approvado o compet.e orçamento, e não tem sido posto em execução por falta de meios pecuniários."[5]
Quando do Tombo de 1881 encontrava-se abandonado há mais de cinquenta anos e bastante deteriorado, para o que contribuíram os grandes canaviais que o circundavam por três das suas faces.[6]
No ano de 1885, ainda segundo documentos de retificação ao tombo anterior, tinha ocorrido a derrocada de parte dos merlões e das canhoneiras.
Hoje em dia encontram-se vestígios desta estrutura, junto à zona industrial do Cabo da Praia, sinalizados com uma bandeira em haste.
Características
[editar | editar código-fonte]Apresenta planta irregular, em alvenaria grossa argamassada, assente sobre barreiras, com uma área de 641 metros quadrados. Por se encontrar a alguma distância do mar, manteve-se relativamente preservado ao longo dos séculos.
Em seus muros rasgavam-se quatro canhoneiras. Era acedido por uma rampa, que também dava passagem à Casa da Guarnição e ao paiol.
Referências
- ↑ JÚDICE, João António. Revista que fez... nos fortes e redutos que defendem a costa... desta Ilha Terceira. 1767.
- ↑ Revista aos Fortes que Defendem a costa da Ilha Terceira - 1776 Arquivado em 27 de dezembro de 2013, no Wayback Machine. in IHIT.pt. Consultado em 3 dez 2011.
- ↑ No contexto da crise entre Portugal e Espanha em 1817, suscitada pela ocupação de Montevidéu na América do Sul, na tarde de 8 de junho de 1818, surgiu ao Norte da Terceira uma poderosa Armada com 97 navios de guerra e de transporte, o que levou a que os sinos das vilas da ilha tocassem a rebate, espalhando-se o pânico entre a população. Muitas famílias abandonaram as suas casas, ocultando os seus bens, o mesmo ocorrendo com alfaias litúrgicas e bens mais valiosos das igrejas e conventos. Imediatamente o Capitão-general Francisco António de Araújo procedeu à mobilização das gentes, dispondo a defesa do melhor modo possível dada a precariedade dos recursos. No dia seguinte, os navios aproximaram-se da costa, reunindo-se e alinhando-se como se quisessem investir sobre a ilha. Na madrugada do dia 10, entretanto, alguns deles já haviam se retirado, no que foram seguidos pelos demais, na tarde do mesmo dia, jamais se tendo sabido quem eram e a que haviam vindo. Essa foi a razão pela qual se procedeu a manutenção dos fortes da ilha nesse período (FARIA, s/d).
- ↑ FARIA, 2000:156.
- ↑ BASTOS, 1997:273.
- ↑ Damião Pego. "Tombos dos Fortes da Ilha Terceira".
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- BASTOS, Barão de. "Relação dos fortes, Castellos e outros pontos fortificados que devem ser conservados para defeza permanente." in Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira, vol. LV, 1997. p. 272-274.
- DRUMMOND, Francisco Ferreira. Anais da Ilha Terceira (fac-simil. da ed. de 1859). Angra do Heroísmo (Açores): Secretaria Regional da Educação e Cultura, 1981.
- FARIA, Manuel Augusto. "Plantas dos Fortes da Ilha Terceira". Atlântida, vol. LXV, 2000. p. 154-171.
- FARIA, Manuel Augusto. "Ilha Terceira – Fortaleza do Atlântico: Forte de São José". in Diário Insular, s/d.
- MOTA, Valdemar. "Fortificação da Ilha Terceira". in Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira, vol. LI-LII, 1993-1994.
- NEVES, Carlos; CARVALHO, Filipe; MATOS, Arthur Teodoro de (coord.). "Documentação sobre as Fortificações dos Açores existentes nos Arquivos de Lisboa – Catálogo". in Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira, vol. L, 1992.
- PEGO, Damião; ALMEIDA JR., António de. "Tombos dos Fortes da Ilha Terceira (Direcção dos Serviços de Engenharia do Exército)". in Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira, vol. LIV, 1996.
- VIEIRA, Alberto. "Da poliorcética à fortificação nos Açores: introdução ao estudo do sistema defensivo nos Açores nos séculos XVI-XIX". in Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira, vol. XLV, tomo II, 1987.